09/05/2014 15:55
AS DEZ PALAVRAS

Não é raro encontrarmos a expressão "os dez mandamentos" como um conjunto de regras que devem ser seguidas ou como um passo a passo, para que determinado objetivo seja alcançado. Cada vez mais, utiliza-se a expressão mandamentos para legitimar a seriedade da proposta e alcançar o maior número possível de adeptos. A variedade e a criatividade são os elementos-chave que servem de atrativo para a conquista de um público cada vez mais ávido por resultados em curto prazo. A título de curiosidade, é possível encontrar textos que se intitulam: "os dez mandamentos" do amor, do professor, de uma diva, dos casais, dos pais, dos filhos, dos maridos, do namorado perfeito, do preguiçoso e pasmem até os “dez mandamentos” do rei do camarote (isso é demais). Enfim, há mandamentos para todos os gostos e para toda e qualquer necessidade.
É no capítulo 20 de Êxodo que vamos encontrar os dez mandamentos de fato. Eles são relatados pela primeira vez, quando Deus se encontrou com Moisés no Monte Sinai, enquanto o povo vagava pelo deserto; e a segunda vez, em Deuteronômio 5.6-21 num contexto de renovação da aliança. No hebraico, os mandamentos são chamados de "As dez palavras" e, segundo a narrativa bíblica, eles são "palavras" ou leis, que foram ditas por Deus, portanto, não se trata do resultado de qualquer processo legislativo humano.
É interessante observar que, antes mesmo de Deus entregar os mandamentos a Moisés, primeiro Ele entrega Seu “cartão de visita” (20.2). Diz quem Ele é e o que já fez ao longo da construção da história daquele povo. Isso sinaliza a existência de um relacionamento e que os mandamentos foram dados a um povo redimido, portanto não foram dados para alcançar a redenção. No Novo Testamento, Jesus diz que Ele veio para cumprir os mandamentos. A aliança entre Deus e seu povo não é mais baseada na obediência aos mandamentos, mas no relacionamento com Cristo.
Observe que mandamentos do Antigo Testamento tratam com duas áreas básicas da vida humana. Os cinco primeiros dizem respeito ao relacionamento com Deus, e os cinco últimos ao relacionamento entre os seres humanos. Por isso, Jesus os resumiu a dois: amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo.
Todos os outros “mandamentos” que surgem diariamente, visando melhorar o relacionamento entre pessoas, são reproduções simuladas deste segundo mandamento e tornar-se-ão desnecessários à medida que nos empenharmos em cumprir o que já conhecemos.